Guerra tarifária abre caminho para Brasil ganhar protagonismo econômico, avalia CEO

De acordo com o CEO da MTM Logix, Mario Veraldo, desde que Pequim reduziu compras de alimentos americanos, Brasil viu exportações de carne bovina para a China saltarem 33% no primeiro trimestre

Guerra tarifária abre caminho para Brasil ganhar protagonismo econômico, avalia CEO

Enquanto as duas maiores potências do planeta travam uma guerra tarifária com efeitos bilionários sobre o comércio global, o Brasil encontra uma rara janela de oportunidade: tornar-se um novo polo estratégico na geopolítica produtiva. De acordo com o CEO da MTM Logix, Mario Veraldo, com tarifas de até 30% penalizando o intercâmbio comercial entre Estados Unidos e China, empresas multinacionais buscam saídas, e uma delas pode estar em território brasileiro. “A lógica do movimento é clara. Conhecida como ‘China+1’, a estratégia adotada por indústrias globais busca diversificar cadeias de suprimentos, reduzindo a dependência do território chinês. Nesse cenário, países como Vietnã, México e Índia colheram frutos iniciais. Mas o Brasil, com mercado interno robusto, matriz energética limpa e uma base industrial diversificada, começa a despontar como destino viável para a realocação produtiva”, afirmou Veraldo.

Segundo estudos do Instituto Ipsos, 28% das empresas que hoje produzem na Ásia planejam deixar a região nos próximos cinco anos, e 11% já consideram a América do Sul como novo polo fabril. Para o Brasil, isso significa uma chance concreta de atrair bilhões em investimentos.

A PRIMEIRA ONDA

Setores como o agronegócio já estão colhendo os frutos. De acordo com o executivo, desde que Pequim, na China, reduziu compras de alimentos americanos, o Brasil viu as exportações de carne bovina para a China saltarem 33% no primeiro trimestre de 2025. A soja nacional, antes vendida com desconto, passou a valer mais que a americana, reflexo da intensa demanda chinesa. “Na mineração, o país se torna opção segura para suprimentos estratégicos. A compra de uma mina de cobre por chineses em Alagoas e os avanços na extração de lítio em Minas Gerais indicam que o Brasil está entrando, pela porta da frente, nas cadeias globais da transição energética”, explicou o CEO.

TECNOLOGIA, ENERGIA LIMPA E INDÚSTRIA

O movimento não se limita a commodities. Investimentos recentes incluem desde a fábrica de veículos elétricos da chinesa BYD na Bahia até um parque industrial “net-zero” no Ceará. Há investimentos em semicondutores, biofármacos, hidrogênio verde e até produção de insumos farmacêuticos. “É um sinal de que o país pode almejar posições mais altas nas cadeias de valor. Estamos vendo um deslocamento real de atividades industriais estratégicas em direção ao Brasil, não é só fuga da China. É aposta em um parceiro confiável, com escala e recursos”, completou Veraldo.

Apesar do potencial, o Brasil ainda enfrenta gargalos. A precariedade da malha rodoviária, a baixa participação ferroviária e a burocracia portuária encarecem o custo logístico, estimado em 12% do PIB, muito acima da média da OCDE.

REFORMAS

A recente reforma tributária e a política externa equilibrada do governo Lula criaram um ambiente mais previsível. De acordo com o executivo, o avanço em acordos como o Mercosul–União Europeia e novas parcerias com Índia, Coreia do Sul e países do Golfo posicionam o Brasil para ampliar sua presença nas cadeias globais.

Um relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento estima que, surfando a onda do nearshoring, o Brasil pode adicionar até US$ 7,8 bilhões por ano às suas exportações. “A vocação brasileira não é, necessariamente, competir com o México pelo posto de “fábrica dos EUA”. O caminho pode ser outro: consolidar-se como hub regional em setores-chave. No agro, energia verde, farmacêutico e automotivo, o Brasil pode abastecer América do Sul, África e até partes da Europa”, explicou o CEO.

Portos como Suape (PE) e Pecém (CE) ganham protagonismo na nova geografia global. Estados como Bahia, Ceará e Piauí atraem fábricas e centros de distribuição graças à energia limpa, incentivos fiscais e localização estratégica.

RECONFIGURAÇÃO DAS CADEIAS GLOBAIS

Em entrevista exclusiva à MundoLogística, o consultor e especialista em logística e Supply Chain Ricardo Ruiz Rodrigues analisou o impacto do novo pacote tarifário anunciado pelo ex-presidente Donald Trump, que impõe sobretaxas a importações da China, México, Canadá e até do Brasil. “Esse movimento certamente vai reconfigurar as cadeias, porque a equação de custo vai mudar completamente o eixo de cálculo ao longo de uma cadeia de valor. As empresas vão ter que fazer isso em prol da competitividade de preço ao consumidor final americano e da rentabilidade”, analisou o consultor.

De acordo com ele, no médio prazo a situação pode beneficiar o Brasil. Ao dificultar as importações dos países asiáticos e limitar os parceiros comerciais próximos (México e Canadá também foram incluídos no tarifaço), os EUA abrem espaço para novos fornecedores na cadeia produtiva — e o Brasil surge como um dos possíveis beneficiários.

OPORTUNIDADE SINGULAR, MAS NÃO AUTOMÁTICA

Segundo o CE, a guerra tarifária é, paradoxalmente, uma chance de ouro para o Brasil se reinventar. Não será fácil nem imediato – exigirá reformas contínuas, qualificação da mão de obra e agilidade governamental. Mas o cenário nunca foi tão favorável. “Se conseguir se posicionar como alternativa confiável, o país deixará de ser apenas o celeiro e a mina do mundo. Poderá se tornar também uma fábrica e, quem sabe, um polo de inovação global”, disse o CEO da MTM Logix.

 

Fonte: Redação - Mundo Logistica

Via: Agência Logística de Notícias

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