Transporte de cargas no Brasil vive momento decisivo para saltos de eficiência

Segundo o núcleo de estudos da Carsten, foco em produtividade, digitalização e governança marcam nova fase do setor — apesar de desafios notáveis

Transporte de cargas no Brasil vive momento decisivo para saltos de eficiência

Mesmo diante de gargalos estruturais históricos, como a malha viária precária e a elevada dependência do modal rodoviário, o transporte de cargas no Brasil vive um momento de inflexão. Pelo menos é o que mostra o estudo “O potencial do transporte de cargas no Brasil”, desenvolvido pelo Núcleo de Estudos Logística em Movimento (NELM), da Carsten.

O relatório traçou um diagnóstico do setor e apontou caminhos estratégicos para ganhos de produtividade, sustentabilidade e competitividade — o que é propício para um segmento que representa 7,6% do PIB brasileiro e movimenta mais de 1,7 bilhão de toneladas de cargas por ano.

Algo que já é um consenso na logística é o desequilíbrio da matriz de transportes no Brasil. Hoje, cerca de 65% de tudo que é transportado no país percorre as rodovias. No entanto, esse modelo altamente concentrado é, também, ineficiente: aproximadamente 40% das viagens são feitas com caminhões rodando vazios no retorno. Isso significa desperdício de recursos, aumento das emissões e perda de margem para transportadoras.

Porém, segundo o CEO da Carsten, Rennan Carsten Laurentino, é na dificuldade que surgem as oportunidades. “Mesmo com a precariedade da infraestrutura rodoviária, a logística brasileira aprendeu a operar na adversidade. E é justamente aí que surgem os diferenciais”, afirmou.

Para o executivo, é possível alcançar altos níveis de eficiência mesmo nas condições atuais, desde que haja “foco absoluto na produtividade da frota, uso intensivo de tecnologia para controle e planejamento, e profissionalização da gestão em todos os níveis”.

No caso da Carsten, a companhia já opera com menos de 10% de quilômetros rodados sem carga em operações sinérgicas — índice abaixo da média nacional. “Enquanto o setor ainda convive com índices acima de 40% de ociosidade, queimando margem, há sim espaço para eficiência — mesmo sem uma infraestrutura ideal”, declarou Laurentino.

INTEGRAÇÃO LOGÍSTICA E VALORIZAÇÃO DO MOTORISTA

O estudo da NELM também apontou que a integração entre transporte, armazenagem e distribuição é um dos principais caminhos para ganhos operacionais no país. Para Laurentino, essa abordagem é mais que desejável. “É indispensável para quem busca competitividade real. Já não faz sentido tratar transporte, armazenagem e distribuição como áreas isoladas”, disse.

Segundo ele, a fluidez entre os modais e o uso inteligente de dados em tempo real são fatores-chave para a eficiência logística. “O cliente quer previsibilidade, rastreabilidade e agilidade. E isso só se entrega quando se opera como um ecossistema logístico — e não como estruturas que não se comunicam”.

Outro ponto sensível do setor é o déficit de motoristas. Atualmente, estima-se que esse escassez seja de mais de 100 mil profissionais, enquanto dados de uma pesquisa do ILOS apontaram que o Brasil perdeu 1 milhão de motoristas em uma década.

Para o CEO da Carsten, trata-se, inclusive, de um problema que exige ação pública e privada. “É um desafio real — e urgente. Do lado público, ainda faltam incentivos à formação, infraestrutura de apoio nas estradas e políticas que valorizem a profissão. Mas o setor privado também precisa rever sua postura”, alertou. “Enquanto o motorista for visto apenas como custo, nada muda. É preciso enxergá-lo como ativo estratégico da cadeia.”

Apesar de o mercado já ver algumas iniciativas, como programas de formação, reconhecimento e crescimento para os motoristas, Laurentino apontou um gargalo operacional ainda negligenciado. “Baixa produtividade nos momentos de carga e descarga, falta de estrutura nos pátios e processos desorganizados. Isso tira tempo, gera frustração e impacta diretamente o resultado”.

DIGITALIZAÇÃO, GOVERNANÇA E NOVOS LÍDERES

Um vetor estratégico identificado no estudo é a digitalização, ressaltando como decisiva a aposta em sistemas como Big Data, torres de controle e Inteligência Artificial. No entanto, talvez o mercado esteja alguns passos atrás: segundo os dados da Carsten, hoje menos de 30% dos caminhões utilizam tecnologias de telemetria ou rastreamento, por exemplo.

Mesmo assim, Laurentino vê o investimento em tecnologia como algo valoroso — e inevitável. “Big Data permite decisões baseadas em fatos, não em achismos. Torres de controle entregam visibilidade total da operação em tempo real, corrigindo desvios antes que virem problemas. Já a Inteligência Artificial entra para prever falhas, reduzir ineficiências, otimizar rotas e maximizar o uso dos ativos”.

Segundo o estudo, ganhos de eficiência poderiam reduzir o custo logístico nacional em até R$ 100 bilhões por ano e ainda ter repercussões sustentáveis, como o corte de 25 milhões de toneladas de emissões de CO2. E, para o CEO, esse potencial torna ainda mais necessária a profissionalização da gestão e a adoção de práticas robustas de governança — como ele disse, essa é “uma linha de corte”.

“O setor passou anos operando no improviso, com decisões intuitivas e baixa disciplina de gestão. Esse tempo ficou para trás”, enfatizou Laurentino. “Crescimento sustentável exige governança estruturada, conselhos atuantes, processos bem definidos, compliance forte e uma cultura orientada por dados”.

PRÓXIMAS APOSTAS ESTRATÉGICAS

Na visão do CEO da Carsten, três grandes movimentos devem moldar o futuro do setor. O primeiro deles é o protagonismo do operador logístico full service. “O mercado exige soluções completas, integradas e com inteligência de cadeia. Quem entrega transporte, armazenagem, controle e dados num modelo end-to-end passa a ser peça estratégica no negócio do cliente”, disse.

O segundo é a “inversão” do ESG, chamado por Laurentino de GSE (Governança, Sustentabilidade e Eficiência). “A ordem importa. Primeiro, governança sólida para sustentar as decisões. Depois, sustentabilidade aplicada com racionalidade — menos desperdício, menor emissão, mais performance. A eficiência é o resultado natural de uma operação bem gerida. Sem isso, o discurso ambiental não se sustenta.”

Por fim, o executivo enfatizou a consolidação do setor com liderança digital. “O mercado está afunilando. Crescer com governança, integrar operações e capturar sinergias será decisivo. E tudo isso exige uma nova geração de líderes: mais técnicos, mais estratégicos e com forte domínio digital”, afirmou.

 

Fonte: Christian Presa - Mundo Logística

Via: Agência Logística

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